O Que Está Acontecendo com a Bahia? Um Estado à Beira do Colapso da Segurança Pública

 

A Bahia, um dos estados mais vibrantes do Brasil, enfrenta uma crise de segurança pública alarmante que o coloca no topo dos rankings de violência letal. Dados de 2025 revelam um cenário preocupante: 1.018 assassinatos nos primeiros três meses do ano, mantendo o estado na liderança nacional de mortes violentas. Mas essa estatística é apenas a ponta do iceberg de um problema complexo e multifacetado, com raízes em décadas de políticas falhas e um avanço implacável de facções criminosas.


A Escalada da Violência: Um Retrato em Números

A Bahia tem testemunhado um crescimento exponencial dos homicídios ao longo das últimas décadas. Entre 1981 e 2021, o número de assassinatos cresceu assustadores 1.393%. Em 2023, o estado registrou 6.578 Mortes Violentas Intencionais (MVI), com uma taxa de 46,5 por 100 mil habitantes, mais que o dobro da média nacional.

Paralelamente, a letalidade policial também disparou. Em 2023, 1.699 pessoas morreram em ações policiais no estado, o maior número entre todas as unidades da federação. Isso se traduz em uma taxa de 12 mortes por 100 mil habitantes causadas por agentes do Estado, superando inclusive o Rio de Janeiro em 2022. Esse dado aponta para um modelo de segurança pública focado no confronto, em detrimento da prevenção e inteligência.


As Chacinas e o Controle Territorial: O Colapso Visível

O retrato mais sombrio do colapso da segurança na Bahia talvez seja a frequência das chacinas. Em março de 2025, uma operação em Fazenda Coutos, Salvador, resultou na morte de 12 pessoas após um confronto de mais de sete horas. Segundo o Instituto Fogo Cruzado, que define chacina como a morte a tiros de três ou mais civis na mesma situação, 67% das chacinas na Bahia envolvem policiais. Desde 2022, Salvador registrou 63 chacinas, sendo 46 delas em ações e operações policiais.

Esses eventos não são isolados; eles estão intrinsecamente ligados a uma disputa cada vez mais intensa por territórios, tanto entre as facções criminosas quanto entre elas e o Estado. A violência se espalha, e as balas perdidas se tornam uma triste realidade, como as seis vítimas registradas em março de 2025 em Salvador e região metropolitana.


A Ascensão das Facções: O Estado Paralelo

Atualmente, 21 facções criminosas atuam na Bahia, muitas delas nascidas como grupos locais que, com o tempo, estabeleceram alianças com organizações maiores como o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o Comando Vermelho. Em muitos bairros e comunidades, o crime organizado já suplantou o Estado, controlando a entrada e saída de pessoas, cobrando taxas de “segurança”, realizando julgamentos informais e até mesmo resolvendo conflitos entre vizinhos.

Bairros como Beiru/Tancredo Neves, Águas Claras e Fazenda Coutos, em Salvador, são exemplos claros desse domínio. A Bahia, com seus portos e aeroportos, possui uma posição estratégica para o tráfico de drogas, o que potencializa a força dessas organizações. Cidades do interior do estado, com infraestrutura policial precária, são ainda mais vulneráveis. O investigador Sérgio Gomes sintetiza a situação: “É um sinal muito claro que o Estado não está conseguindo enfrentar o crime organizado e ele avança sobre o Brasil e avança rapidamente”.


Respostas do Estado e o Custo Social da Crise

Diante do cenário, o governo estadual tem tentado reagir. Houve uma troca na cúpula da segurança pública, e a Secretaria de Segurança Pública lançou a operação “Força Total”, que aposta no reconhecimento facial, câmeras integradas e inteligência unificada. Apesar de uma leve redução nas mortes violentas em relação ao ano anterior, a Bahia persiste no topo do ranking da violência.

A crise tem um custo social e econômico direto. Famílias são destruídas, comunidades vivem sob medo constante, e o desenvolvimento econômico é impedido. Moradores relatam toques de recolher impostos por facções, festas “autorizadas” por criminosos e a resolução de conflitos em “tribunais do tráfico”. Essa situação não se restringe à capital; cidades como Jequié, Eunápolis e Simões Filho, no interior, também figuram entre as mais letais do Brasil. Márcio Berti, da Anacrim, alerta que as facções ocupam os espaços deixados pelo poder público, oferecendo “proteção, renda, pertencimento e até justiça”.


Bahia: Rumo a um Narcoestado?

A situação da Bahia levanta a preocupante questão de se o estado estaria caminhando para se tornar um narcoestado. Embora a classificação formal, nos moldes do México ou Colômbia, onde facções controlam diretamente estruturas estatais, ainda não se aplique, os sintomas são alarmantes: grupos armados com controle territorial, ausência do Estado em áreas críticas, substituição de funções públicas por estruturas criminosas e uma crescente aceitação social desses grupos em comunidades marginalizadas. Ao permitir essa progressão, o Estado brasileiro já cedeu parte de sua soberania em regiões inteiras, caracterizando a primeira etapa do narcoestado: a queda da autoridade estatal em favor de poderes paralelos com legitimidade local.

O risco de que esse modelo se espalhe por outras partes do país é real, não apenas pela migração de criminosos, mas pela reprodução de um modelo falido de segurança pública, baseado no confronto direto e na falta de inteligência estratégica.

A Bahia, em 2025, é um território em disputa, onde a definição de justiça, segurança e autoridade está sendo redefinida. Quando grupos armados passam a oferecer proteção, renda e “justiça”, a soberania do Estado é questionada. A crise na Bahia é um alerta urgente para a necessidade de repensar as políticas de segurança pública em todo o Brasil.

Você concorda com essa análise da situação na Bahia? O que você acha que deveria ser feito para reverter esse cenário? Deixe seu comentário e nos diga o que pensa.

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